Um veneno insidioso pode estar oculto no seu peixe, a ciguatoxina

Uma intoxicação alimentar pouco conhecida, embora bastante frequente, e para a qual não existe um teste diagnóstico nem uma cura, e que é responsável por mais da metade dos casos de intoxicação por ingestão de peixes nos Estados Unidos: o envenenamento por ciguatoxina.

A ciguatoxina é encontrada em peixes que se alimentam dos corais nas regiões tropicais  e semitropicais e em peixes carnívoros que se alimentam dos comedores de corais.

Sintomas semelhantes aos do envenenamento pela ciguatoxina foram relatados no Egito Antigo, mas a primeira descrição “oficial” dessa intoxicação é devida a exploradores espanhóis que visitaram Cuba no século XVI.

A ciguatoxina é produzida por um dinoflagelado unicelular, que nada livremente, o protozoário Gambiendiscus toxicus, que se liga a algas marinhas que crescem nos recifes de corais. Peixes pequenos ingerem as algas com a toxina e são depois predados por peixes carnívoros maiores; como o veneno é lipossolúvel, vai se concentrando ao longo da cadeia alimentar.

No Sul da Flórida os culpados são geralmente peixes grandes, como a garoupa, o pargo e a barracuda. Como mais de um terço das barracudas apresenta contaminação, o Condado de Dade , que inclui Miami, proibiu a venda da barracuda, mas frequentemente ela é vendida com outros nomes, já que os consumidores têm dificuldade para identificar os peixes.

A ciguatoxina abre os canais de sódio das células nervosas e musculares, interferindo com a fisiologia normal dessas células.

Mas quais são os sintomas dessa intoxicação? Eles tipicamente começam poucas horas após a ingestão do peixe contaminado, mas às vezes só aparecem após 24 horas ou mais: indisposição estomacal, náuseas, vômitos, diarreia e cólicas são os primeiros sintomas. Em seguida, surgem os sintomas neurológicos: dormência e formigamento dos lábios, língua e garganta, dedos das mãos e dos pés; os pacientes mais severamente afetados podem apresentar uma inversão da sensação de calor e frio, de modo que um cubo de gelo parece quente como uma chama e o fogo produz sensação de frio intenso.

Fraqueza, tonteira, boca seca, dores musculares e articulares, dores lancinantes nos braços e pernas e uma sensação de que os dentes estão soltos têm sido sintomas relatados com frequência. A visão também pode se tornar turva ou distorcida, a pele pode coçar e a frequência cardíaca e a pressão arterial podem cair. Dificuldades respiratórias também são  comuns. Uma característica interessante da intoxicação com a ciguatoxina é que os sintomas são acentuados pela ingestão de álcool.

Embora a maioria dos pacientes se recupere espontaneamente dentro de um a dois meses, os sintomas podem persistir por meses ou anos.

Como não há tratamento específico, a prevenção é a melhor estratégia contra essa intoxicação: evitar comer garoupas, pargos e barracudas em locais em que já foram relatados casos de intoxicação. É especialmente importante evitar comer o fígado do peixe, que concentra a toxina. Peixes grandes contêm mais toxina: peixes com menos de 5 libras (2,25 kg) também são considerados mais seguros; um peixe inteiro sem a cabeça que caiba num prato de jantar pode ser consumido por uma pessoa com relativa segurança, de acordo com o Dr. W. Robert Lange do Johns Hopkins Hospital em Baltimore, um dos maiores especialistas em intoxicação pela ciguatoxina.

Fonte: An Insidious Poison Lurks in Some Fish. The New York Times,  September 8, 1993, Página C00012

Written on July 14, 2022