Novos tratamentos em medicina geralmente precisam ser validados mediante criteriosos estudos controlados. Entretanto, alguns novos procedimentos ou tratamentos medicamentosos são tão eficazes que a utilidade da sua utilização se torna evidente.

Alguns exemplos: o tratamento da fibrilação ventricular com os desfibriladores externos, a redução da concentração sanguínea de glicose com a insulina, a administração de extrato de fígado (fonte de vitamina B-12) na anemia perniciosa.

Há alguns exemplos mais recentes e menos conhecidos dessa classe de tratamentos:

• Propranonol para hemangiomas infantis: o hemangioma infantil é um tumor endotelial benigno caracterizado por um rápido crescimento nos primeiros meses de vida e regressão espontânea nos anos subsequentes. Ele é composto por vasos sanguíneos aberrantes e muitas vezes ocorre no rosto, tendo cor avermelhada. O tratamento tradicional era feito com corticoides, até que uma criança com um volumoso hemangioma que cobria metade da face precisou ser tratada com o propranolol por conta de uma insuficiência cardíaca. De modo inesperado, o hemangioma passou a regredir acentuadamente com essa medicação. Após mais estudos que confirmaram essa ação terapêutica, o propranonol é hoje considerado a primeira escolha para o tratamento desse tumor.

• Imatinib para leucemia mieloide crônica: até o final dos anos 90 o tratamento da leucemia mieloide crônica com os meios tradicionais era altamente insatisfatório. Após a utilização do imatinib em pacientes que não eram candidatos à terapêutica usual os resultados foram marcantes em termos de aumento da sobrevida e redução de efeitos colaterais. Após estudos confirmatórios, o imatinib é hoje a droga de primeira escolha nessa leucemia.

• Mother’s Kiss para corpos estranhos na narina de crianças: esta é uma manobra que foi proposta pela primeira vez em 1965, para tentar desalojar corpos estranhos da narina de crianças pequenas, que não sabem assoar o nariz com força. Se a criança tiver um corpo estranho sólido alojado em uma narina, a mãe (ou o pai) pode se posicionar como se fosse fazer respiração boca-a-boca, ao mesmo tempo em que comprime a narina que não tem obstrução. Após insuflar lentamente e sentir o aumento de resistência quando a glote da criança se fecha, o adulto rapidamente produz um sopro mais forte. Isso funciona em 60% dos casos. O ideal é que essa manobra seja realizada pela mãe no Pronto-Socorro, na presença do médico. Se funcionar, pode evitar a necessidade de sedação para extração do objeto com pinças ou outros procedimentos mais invasivos.

Fontes:

Webmd.com

Efficacy and safety of the “mother’s kiss” technique: a systematic review of case reports and case series

Antes, G., 2013. Wo ist der Beweis? Plädoyer für eine evidenzbasierte Medizin.(deutsche Ausgabe von „Testing Treatments “). Göttingen: Hans Huber.