Como o sentido da olfação modifica o comportamento humano

A olfação tem algo de animal. Os animais se certificam do odor dos companheiros, por exemplo, para saber quais estão mais preparados para o acasalamento- mas os humanos? De jeito nenhum!

Os neurofisiologistas há muito têm contribuído para esse orgulhoso distanciamento dos humanos de outros animais, descrevendo a olfação humana como muito rudimentar. Isso sempre foi entendido como um cumprimento; afinal, quem tem um intelecto superior e lívre arbítrio nunca se deixaria influenciar por meros odores.

Entretanto, e apesar do fato de que as pesquisas científicas sobre olfação e comportamento humano ainda estão na sua infância, uma coisa parece certa: nós continuamente detectamos o odor dos nossos pares e isso influencia vários aspectos do nosso comportamento.

O sentido da olfação é um dos mais antigos na evolução e está intimamente imbricado com o sistema límbico e as emoções. O biólogo israelense Noam Sobel descreveu em um artigo recente que o odor de lágrimas de uma mulher pode levar a uma redução dos níveis de testosterona em homens. Isso se acompanhou na maioria dos voluntários de uma redução do impulso sexual. As lágrimas parecem, portanto, conter um sinal químico, que de modo inconsciente pode ter influência no comportamento humano.

Em outra pesquisa Inbal Ravreby, que trabalha com Sobel no Instituto Weizmann de Ciências em Israel, demonstrou que indivíduos com similaridades no odor corporal têm mais chances de se tornarem amigos. Os pesquisadores analisaram o odor corporal de pessoas que já eram amigas, e comprovaram: bons amigos, odor semelhante.

Posteriormente, eles analisaram os odores corporais de diversos participantes, e foram capazes de prognosticar entre quais indivíduos haveria maior probabilidade de ocorrer um “match”. Para isso, os pesquisadores utilizaram o assim chamado “Mirror Game”. Neste jogo os participantes ficam de frente um para o outro, sem se falarem, e tentam espelhar os seus movimentos de mão e braço. Quanto mais duas pessoas se entendem, mais o “match” ocorre entre elas, e mais síncronizados são os seus movimentos.

“Em 71 por cento dos casos o prognóstico foi acertado”, afirmou Ravreby. Essa enorme influência do odor corporal espantou até mesmo a própria pesquisadora.

“Não se trata de encontrar alguém que usa o mesmo sabonete ou o mesmo perfume. Essas coisas realmente influenciam o nosso odor corporal, entretanto nós todos temos um odor próprio- como uma impressão digital”, afirma Ravreby. Na verdade, nós gostamos mais do odor de um shampoo ou de um perfume, quando através dos seus componentes o nosso próprio odor corporal é ressaltado, diz a pesquisadora.

Comparado ao estudo da visão, por exemplo, o campo de estudo da olfação humana ainda se encontra na sua infância. Entretanto, estas duas pesquisas recentes publicadas na prestigiosa revista Science mostram que o interesse dos pesquisadores pelo assunto vem crescendo e já está resultando em pesquisas de qualidade.

Adaptado de uma reportagem da Deutsche Welle

Written on July 4, 2022