Só Pode Fazer Bem? Pense Melhor...

Nos anos 40, a mortalidade infantil era tal que um de cada cinco bebês prematuros morria. Depois que os médicos perceberam que esses bebês tinham grandes dificuldades respiratórias, passaram a aumentar os níveis de oxigênio nas incubadoras.

De 1942 a 1954 foi relatada uma “epidemia” de cegueira em recém-nascidos prematuros devido a uma condição conhecida como fibroplasia retrolenticular, ou retinopatia dos prematuros. A causa da condição era desconhecida.

Em 1950 o Dr. Arnall Patz submeteu ao National Institutes of Health (NIH), em Washington, um pedido de financiamento para uma pesquisa que pretendia examinar o possível papel do excesso de oxigênio nas incubadoras no desenvolvimento dessa retinopatia. O pedido de financiamento para o estudo foi negado. Da carta que recebeu do NIH, negando o auxílio, constava a seguinte frase:”Não há nada científico sobre a adição de oxigênio como uma possível causa da retinopatia retrolenticular”.

O Dr. Patz não se abateu, e levou adiante o estudo com financiamento de um doador local. Os resultados foram muito claros: de 28 bebês tratados com uma alta concentração de oxigênio, 7 desenvolveram a retinopatia, contra nenhum dos 37 que receberam doses menores de oxigênio. Em setembro de 1954 foi divulgado um estudo maior que não deixou mais nenhuma dúvida quanto à associação do oxigênio em altas concentrações na incubadora com a cegueira dos prematuros.

Este episódio da história da medicina serve de alerta: mesmo o que parece ser apenas benéfico pode trazer malefícios. Qualquer tratamento novo deve passar pelo crivo dos ensaios clínicos controlados.

Fontes:

The Washington Post

Antes, G., 2013. Wo ist der Beweis? Plädoyer für eine evidenzbasierte Medizin.(deutsche Ausgabe von „Testing Treatments “). Göttingen: Hans Huber.

Written on June 21, 2020