15 Erros Comuns nos Ensaios Clínicos
Os ensaios clínicos são fundamentais para o progresso da medicina. Entretanto, devemos estar atentos aos diversos erros e problemas que podem levar a conclusões equivocadas:
1. Falta de pesquisa cuidadosa da literatura para identificar pesquisa semelhante já publicada
Para evitar isso, devemos partir do pressuposto de que a pergunta de pesquisa já foi respondida por algum autor
- Dica: ler com atenção a seção de discussão de artigos semelhantes; pode dizer o que falta pesquisar na área
2. Falta de análise crítica dos trabalhos anteriormente publicados
Dica: descobrir o que os pesquisadores anteriores acharam que poderia ser aprimorado
3. Falta de deixar bem claros os critérios de inclusão e exclusão de participantes
Dica: se não souber como definir esses critérios, tome como exemplo os critérios utilizados por outros pesquisadores
4. Não determinar e descrever a margem de erro dos seus métodos de medida
Dica 1: descrever os métodos de treinamento e calibração dos examinadores; descrever a variação entre examinadores
Dica 2: o processo de calibração dos métodos de medida pode até gerar um artigo em si mesmo
5. Não especificar os pressupostos estatísticos
- nível de significância aceito (alfa)- 0,05 ou 0,01
- testes estatísticos utilizados
- raramente indicam o valor de beta (possibilidade de erro tipo II)
- geralmente 0,2 ou menos e o poder do estudo (1 menos beta)
6. Não realizar o cálculo do tamanho da amostra antes de começar o estudo
- a maioria dos ensaios clínicos que dizem que dois métodos são equivalentes ou não superiores têm baixo poder, ou seja, “n” muito pequeno
Dica: há programas online e comercialmente disponíveis que estimam o tamanho necessário para a amostra
- depende de:
- dados lineares ou não
- tamanho do efeito
- variabilidade dos dados
7. Não implementar medidas adequadas de controle de viés do estudo
- randomização adequada dos participantes a áreas, procedimentos e controles
- medidas e análises por investigador cegado
- condição controle adequada
- verificar no início e periodicamente o cegamento dos sujeitos
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blinding checks para evitar o Hawthorne effect
- estudos com poucos participantes tendem a mostrar mais resultados positivos (falsos)
8. Não determinar e seguir um cronograma
Dica: Os bons pesquisadores fazem uma tabela de Gannt e se mantêm fiéis a ela!
9. Não ter estratégias bem determinadas de recrutamento e manutenção de voluntários
Dica: Muitos ensaios clínicos fracassam por não conseguir recrutar e manter os voluntários- fazer disso uma prioridade
10. Não ter um protocolo escrito detalhado
” A sorte ajuda os bem preparados”
-
em pesquisa clínica, estar preparado significa ter um protocolo de pesquisa bem escrito, detalhado, que pode ser consultado frequentemente durante a pesquisa
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é muito interessante ter a assessoria de um estatístico experiente antes da pesquisa e durante a análise dos dados
11. Não verificar a normalidade dos dados (apenas para variáveis lineares contínuas)
- programas podem checar a normalidade
- dados que não têm distribuição normal podem ser transformados logaritmicamente para continuar a usar testes paramétricos (mais sensíveis)
Dica: olhar os dados num gráfico- forma de sino?
12. Não relatar dados faltantes, sujeitos perdidos e análise intention to treat
Dica 1: os novatos geralmente excluem os voluntários perdidos da análise- isso pode alterar as conclusões do estudo
Dica 2: run-in phase - os pesquisadores vêem os voluntários mais de uma vez antes de começar o estudo- ajuda a estabelecer elegibilidade e reduz drop-outs
13. Não realizar os cálculos de poder (power) do estudo
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muitos softwares podem fazer esse cálculo
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Estudos de equivalência com baixo poder estatístico tendem a erros do tipo II (falso negativo)
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Causas de erro tipo II
- n pequeno
- medidas demais em poucos voluntários
- se fazemos medidas em 2 grupos de voluntários em 2 ocasiões diferentes, é provável que algumas medidas serão diferentes na segunda vez
- se não ajustarmos a estatística para medidas repetidas, podemos errôneamente inferir significância estatística
14. Não comentar os pontos fracos do próprio estudo
15. Não entender e utilizar corretamente a linguagem científica
-
um único estudo nunca prova que uma hipótese é verdadeira, ele simplesmente rejeita a hipótese nula
Fonte: Clark, G.T. and Mulligan, R., 2011. Fifteen common mistakes encountered in clinical research. Journal of Prosthodontic Research, 55(1), pp.1-6.