Aula 3-Como surgiram as aplicações terapêuticas da EMT?
Respostas às questões da Aula 2: 1c;2b;3a.
Primeiros indícios de pós-efeitos duradouros da estimulação
Já em 1994, durante as pesquisas sobre neurofisiologia que mencionamos na aula passada, ficara claro que estímulos magnéticos repetidos, aplicados sobre o córtex motor humano, eram capazes de produzir alterações da excitabilidade cortical que perduravam após o término da sessão de estimulação (Pascual-Leone et al. 1994) 1.
Surgimento da EMTr como terapia para a depressão fármaco-resistente
Em 1996 Pascual-Leone publicou um artigo clássico, mostrando que a EMT de pulsos repetidos (EMTr) era capaz de produzir melhora em quadros graves de depressão resistente à terapia farmacológica (Pascual-Leone et al. 1996) 2.
Desde então, e a partir do estudo das mudanças da excitabilidade cortical que podem ser induzidas pela EMTr (Pascual-Leone et al. 1998)3, essa forma de estimulação, aplicada em sessões repetidas, passou a ser utilizada em diversos transtornos neuropsiquiátricos, sempre com o intuito de excitar ou inibir de forma duradoura certas regiões do encéfalo que se supõe estejam implicadas na fisiopatologia desses distúrbios (Iannone et al. 2016) 4.
O Dr. Pascual-Leone aplicando a EMTr a um paciente.
Após o trabalho pioneiro de Pascual-Leone e colaboradores (Pascual-Leone et al. 1996), vários outros pesquisadores confirmaram a eficácia da estimulação de alta frequência sobre o córtex pré-frontal dorsolateral (CPFDL) esquerdo (Rosa et al. 2006) 5;, bem como da EMTr de baixa frequência sobre o CPFDL direito (Boechat-Barros and Brasil-Neto 2004) 6.
Pelo menos três grandes estudos multicêntricos, randomizados, duplo-cegos e controlados com placebo foram publicados até hoje sobre os efeitos da EMTr na depressão, incluindo um total de 703 pacientes adultos com transtorno depressivo maior (TDM) que não haviam respondido de 1 a 4 tentativas adequadas de tratamento medicamentoso (Perera et al. 2016)7.
A vasta bibliografia já acumulada levou à aprovação da EMTr para o tratamento da depressão resistente à medicação, tanto pela Food and Drug Administration (Estados Unidos da América) quanto pelo Conselho Federal de Medicina em nosso país.
Questões:
- Podemos dizer que a EMT :
- a. Aplicada em pulsos únicos ou repetidos não apresenta pós-efeitos sobre a excitabilidade cortical;
- b. Pode excitar ou inibir áreas do córtex cerebral;
- c. Os efeitos podem perdurar após o término da sessão de estimulação;
- d. “b” e “c” estão corretas.
- A EMTr como terapia:
- a. Foi tentada primeiramente na depressão fármaco-resistente;
- b. Foi aprovada pela FDA americana para tratamento da depressão;
- c. Ainda não tem aprovação do Conselho Federal de Medicina;
- d. “a” e “b” estão corretas.
- Sobre a EMTr terapêutica, todas estão corretas, exceto:
- a. Ainda não tem nenhuma comprovação científica;
- b. Pode ser usada para aumentar ou reduzir a excitabilidade cortical;
- c. Tem potenciais aplicações em diversos transtornos neuropsiquiátricos;
- d. Foi primeiramente descrita por Pascual-Leone em 1996.
Anote e confira as suas respostas na próxima aula! Até lá!
Referências:
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Pascual-Leone, A., Valls-Solé, E.M. Wassermann, and Hallett, M. 1994. Responses to rapid-rate transcranial magnetic stimulation of the human motor cortex.Brain} 117: 847-858. ↩
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Pascual-Leone, A.,Rubio,B., Pallardo, F., and Catala, M.D. 1996. Rapid-rate transcranial magnetic stimulation of left dorsolateral prefrontal cortex in drug-resistant depression. Lancet 348 (Jul): 233-237. ↩
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Pascual-Leone, A.,Tormos,J.M., Keenan,J., Tarazona,F., Canete,C. and Catala, M.D. 1998. Study and modulation of human cortical excitability with transcranial magnetic stimulation. J Clin Neurophysiol 15 (Jul): 333-343. ↩
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Iannone, A., Cruz, A.P., Brasil-Neto,J.P and Boechat-Barros, R. 2016. Transcranial magnetic stimulation and transcranial direct current stimulation appear to be safe neuromodulatory techniques useful in the treatment of anxiety disorders and other neuropsychiatric disorders. Arq Neuropsiquiatr 74 (Oct): 829-835. ↩
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Rosa, M. A., Gattaz,W.F., Pascual-Leone,A., Fregni,F., Rosa,M.O., Rumi,D.O., Myczkowski, M. et al. 2006. Comparison of repetitive transcranial magnetic stimulation and electroconvulsive therapy in unipolar non-psychotic refractory depression: a randomized, single-blind study. Int. J. Neuropsychopharmacol. 9 (Dec): 667-676. ↩
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Boechat-Barros, R., and J. P. Brasil-Neto. 2004. Transcranial Magnetic Stimulation in depression: results of bi-weekly treatment. Rev Bras Psiquiatr 26 (Jun): 100-102. ↩
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Perera, T., George,M.S., Grammer,G., Janicak,P.G., Pascual-Leone, A. and Wirecki, T.S. 2016. The Clinical TMS Society Consensus Review and Treatment Recommendations for TMS Therapy for Major Depressive Disorder. Brain Stimul 9: 336-346. ↩